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Durante séculos tivemos a mulher na liderança das organizações sociais. No período Paleolítico, a mulher era quase uma divindade e várias estatuetas da "Grande mãe" ou as "Vênus Esteatupígeas" foram encontradas tendo sido feitas por volta de 25000 a 8000 ac.
Com o passar dos tempos e as civilizações se formando, as mulheres perderam drasticamente seu posto na sociedade. No período Neolítico as divisões sexuais começaram a aparecer. No Egito, os faraós eram sempre escolhidos entre os varões descendentes e na ausência do mesmo, a descendente casaria com o próximo escolhido, sempre da mesma família. Assim foi com as grandes rainhas das dinastias faraônicas. Cleópatra, teve que dividir seu trono com seu irmão, Ptolomeu XIII, sendo exilada em Roma. Nefertiti por sua vez governou por dois anos o Egito, logo após a morte de seu marido e sua morte aconteceu de maneira misteriosa.
Na Grécia antiga os rapazes recebiam a melhor educação possível desde bem cedo e aos sete anos de idade cada menino ateniense era orientado por um pedagogo e as meninas não tinham o direito de ir à escola, ficando aos cuidados da mãe até o casamento. Em roma, a guerra entre os sexos era evidenciada com pinturas de batalhas entre a deusa Vênus e o deus Marte, mas foi na idade média que a mulher voltou a ser reconhecida como ser humano, depois de anos relegada à condição de ser inferior, servindo somente para fins reprodutivos e assim surgiram as primeiras representações sacras da Virgem Maria. No Renascimento, a exploração do corpo feminino como objeto de desejo ou devoção se multiplicou, sejam com mulheres sensuais ou Madonas, como as de Rafael, traduzindo uma aura de fragilidade, passividade e procriação.
A partir do século XV, a idéia da mulher frágil é retratada e produzida exaustivamente de acordo com o gosto da sociedade por artistas do sexo masculino. No século XVII, mulheres passaram a lutar para serem artistas, sendo de início limitadas a temas relacionados a religião, natureza morta e paisagens. Interessante é observar o olhar feminino e masculino de uma mesma cena sendo retratados de maneira totalmente diferente, um exemplo disso é a representação de Susanna, mulher que na bíblia é violentada por anciões.
Percebam que, enquanto Tintoretto representava Susanna como uma "tentação", que passivamente parece aguardar a seus agressores, Artemísia Gentilleschi representa Susanna como uma mulher forte, espantada e tentando se defender.
A sociedade patriarcal que mostra a mulher como ser frágil e ao mesmo tempo uma tentação aos olhos masculinos continuou a dominar até que, nos tempos de revolução industrial onde a mulher foi incorporada subalternamente ao trabalho fabril desencadeou uma desestruturação do núcleo familiar, onde até então o papel de gerador de renda seria exclusivamente masculino, assim nasceu a luta das mulheres por condições melhores de trabalho. No século XIX, iniciou-se o movimento de mulheres reivindicando direitos trabalhistas, equiparação de jornada de trabalho e direito ao voto. As mulheres eram vistas como menos capazes que os homens. A sociedade passou a ter sérias restrições à sexualidade da mulher, posto que poria em risco a legitimidade da prole como herdeira da propriedade do homem.
No século XX, as mulheres começaram a organizar a luta pelos seus direitos, assumindo o movimento feminista . A luta feminina é uma luta para construir novos valores sociais, morais e evoluir para uma sociedade igualitária entre os sexos.
Mas estacionamos por aí. Hoje o que vemos é um feminismo preconceituoso, que não persegue a igualdade entre os sexos e sim uma espécie de inferioridade masculina, objetificando a mulher que ousar usar sua sensualidade/sexualidade para emitir quaisquer tipo de opinião.
Li isso em um blog sobre o "Lingerie day":
"E se seu chefe te assediar porque você posou de lingerie no twitter? Depois, se você o processar, ele será bem capaz de dizer que foi você quem o provocou e vários juízes darão razão a ele." " Eu já disse que a sociedade é machista, não?"
Então, de acordo com isso, por Susanna (aquela da Bíblia e das pinturas) estar passeando livremente por seu jardim, ela já esperava ser estuprada? Ela era uma safada que estava provocando os anciões e merecia tudo aquilo?
As coisas estão dicotômicas de um jeito que parece um mundo infantilizado! Se você concorda e participa do "lingerie day" é puta, se não participa e não concorda é chata, não existe um lugar para um meio termo, não temos o direito a liberdade. Se achamos que a campanha é uma boa desculpa para se discutir relações sociais e aderimos, então é porque fomos subordinadas à sociedade machista e somos simples objetos/mercadoria, não tendo opinião própria, mas se discordamos da campanha, não temos direito a opinião, sendo atacadas com grosserias e palavrões? Não dá para entender o que é pior, se as mulheres que nos objetificam e nos colocam como inferiores e seres não-pensantes ou se os homens e mulheres que atacam quem tem opinião contrária a "causa".
No século XXI, as mulheres que lutam para dar sua opinião continuam sendo discriminadas e atacadas, sendo vistas como "mal amadas" da mesma forma que no início do século XX.
Percebi que o preconceito vem de dentro, a voz das mulheres não são ouvidas por elas mesmas e isso sim, é o mais triste de toda essa história.
Onde está meu direito de expressar minha opinião da maneira que eu melhor entender e acreditar que seja certo? Se essa maneira for tirar a roupa e participar do lingerie day, que seja! Mas não acredito que isso me faça puta e nem bife.

Bjks


Pati Cerejinha


No mais... fotos do Lingerie day de verdade!!!!

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